“O evangelho não cai das nuvens como chuva, por acidente, mas é levado pelas mãos dos homens para onde Deus o enviou.” João Calvino
Missiologia “é o estudo acerca da missão”.
Missão é definida pelo Miniaurélio Século XXI nos seguintes itens:
1. Função ou poder que se confere a alguém para fazer algo; encargo.
2. Comissão diplomática.
3. Obrigação, dever a cumprir.
4. Instituições de missionários para a pregação da fé cristã.
5. O trabalho dos missionários.
A palavra “missão” vem do latim missio, que significa “envio”. A terminologia missio somente veio aparecer no século XVI quando as ordens de monges jesuítas e carmelitas enviaram ao novo mundo de então centenas de missionários. Eles, os jesuítas, foram os primeiros a utilizarem a terminologia “missão”, como a propagação da fé cristã entre os povos não-cristãos, ou seja, a disseminação da fé entre os povos não-católicos (os protestantes foram vistos como indivíduos a serem alcançados). Até o século XVI, o termo “missão”, foi usado exclusivamente com referência à doutrina trinitária, ao papel da Trindade na história da redenção. O envio do Filho pelo Pai, e por sua vez, o envio do Espírito Santo pelo Pai e pelo Filho.
Em grego, a palavra apostello, tem o mesmo significado. O termo se encontra bem destacado nas Sagradas Escrituras. No Novo Testamento as duas palavras apóstolo e pempo, que querem dizer envio, aparecem 210 vezes. Portanto, missão procede do plano e propósito de Deus.
Carlos del Pino diz que:
“O conceito de envio está diretamente relacionado com a ideia de ‘movimento em direção a’, e é justamente pensando-se em missão como o movimento de Deus em direção ao mundo, que devemos compreender e mencionar a questão do envio em relação à Igreja em Missão”.
del Pino diz ainda:
“a missão da igreja não pode ser algo independente de Deus e de Cristo, como se a igreja pudesse realizá-la por si só”.
Deus é Senhor de tudo, e na Sua soberania da salvação requer a missão: “porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8,9). A “fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rm 10.17). Mas, “como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?” (Rm 10.14,15). A missão é indispensável. A Igreja deve cumprir a sua tarefa missionária, anunciando a glória de Deus. Deve ser missionária, anunciando que há um propósito de Deus para o mundo e que Jesus é o Senhor e Salvador.
Edison Queiroz fala que missão é:
“Levar a mensagem do Evangelho atravessando uma barreira cultural”.
De tal modo, missão é tarefa vigente e urgente. É o método que Deus adotou para a divulgação do Evangelho. É urgente por que mais de dois bilhões de seres humanos jamais foram evangelizados e sequer ouviram o nome de Jesus. Portanto, é necessário para a Igreja, como comunidade missionária e portadora da Palavra, atravessar barreiras culturais para cumprir a sua vocação.
Thomas Reginald Hoover conceitua missão da seguinte forma:
“A proclamação das Boas Novas a todos os povos em todas as partes do mundo... esta mensagem é proclamada na língua materna de cada pessoa e dentro da cultura em que ela vive”.
René Padilla já descreve que:
“a missão é fundamentalmente o cumprimento de um mandato que Cristo deu a seus discípulos e que, antes de tudo, tem a ver com a pregação do evangelho a todas as nações da terra”.
A Grande Comissão (Mt 28.19-20) é um mandamento missionário que se cumpre no contexto do plano de salvação, elaborado antes da fundação do mundo para ser executado a todas as nações (Mt 24.14). É fazer discípulos para Cristo.
O Pacto de Lausanne expõe:
“Deus tem chamado do mundo um povo para si e enviado o seu povo ao mundo, como servos e testemunhas”.
Uma frase de Jim Elliot, mártir entre os Aucas no Equador, fazendo referência a palavra “enviar”, diz:
“Nós não precisamos de uma grande chamada de Deus, mas de um chute no traseiro”.
O mesmo acreditava que esta palavra significa “ejetar, empurrar com força”.
Missão é anunciar todo o desígnio de Deus; é “pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo” (Ef 3.8); é anunciar “o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1.11).
Russel Shedd define missão assim:
“A missão da Igreja, portanto, é ser e levantar porta-vozes Daquele que nos deu a responsabilidade de convidar os perdidos nas trevas para sua maravilhosa luz”.
David Bosch, que serviu como missionário numa universidade da África do Sul até 1971, oferece também uma definição de missão:
“A missão constitui um ministério multifacetado em termos de testemunho e serviço, justiça, cura, reconciliação, paz, evangelização, implantação de igrejas, contextualização, etc.. Inclusive o intento de arrolar algumas dimensões da missão, porém está repleto de perigo, porque de novo sugere que nos é possível definir o que é infinito. Quem quer que sejamos, espreita-nos a tentação de enclausurar a Missio Dei nos estreitos confins de nossas próprias predileções, voltando, necessariamente, à unilateralidade e ao reducionismo”.
Assim, definir missão é tarefa árdua. Quando mais se procura entender o seu significado, mais profunda e complexa torna-se a pesquisa. Não se pode limitar a sua significação. Missão envolve tudo o que os autores mencionados acima disseram e muito mais. Portanto, este livro não tem o escopo de esgotar o entendimento da missão, porém, mostrar a missão através de alguns ângulos. Ainda sim, nos surge a necessidade de chamar missão de “anunciar por palavras e ações o Evangelho de salvação de nosso Senhor Jesus Cristo a todas as tribos, raças, línguas, povos e nações”. É a obra de Deus dada aos salvos para resgatarem as vidas ainda perdidas.
Missão é proclamar Cristo na idoneidade do Espírito Santo com o fim de fazer com que os homens passem a acreditar e confiar em Jesus como Salvador com a consequência de servir a Cristo como Senhor, ou seja, visando à reeducação para uma vida transformada. Indicando que a mesma deve ser vista e definida como sendo, claramente, fazer discípulos: “Ide, portanto, fazei discípulos... ensinando-os a guardar todas as coisas...” (Mt 28.19-20, grifo nosso).
A obra missionária é fruto de uma vida com Deus. Uma pessoa que não faz missão não se converteu. Fazer missão é compartilhar as boas novas em Cristo, no poder do Espírito Santo, deixando os resultados para Deus. A missão não é responsabilidade e privilégio de um pequeno grupo de fiéis que se sentem avocados ao campo missionário, contudo, de todos os membros da Igreja, já que todos são parte do Corpo e sacerdócio real e universal e, como tais, foram chamados por Deus “a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9) onde quer que se encontrem.
Missão é uma obra de crescimento espiritual: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos... E em toda a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos. E todos os que criam... E, perseverando unânimes todos os dias no templo... Louvando a Deus” (At 2.42-44,46,47).
Missão é uma obra de crescimento fraternal: “E perseveravam... na comunhão, no partir do pão, e nas orações. E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e fazendas, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração” (At 2.42-46).
Missão é uma obra de crescimento quantitativo: “Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” (At 2.47).
Fazer missão é proclamar, antes, praticar a mensagem mais formidável, necessária, imperiosa e urgente do mundo, da parte da Pessoa mais importante do Universo, ou seja, é glorificar a Deus e anunciar a Sua glória ao mundo. Assim, todo cristão é chamado a seguir Jesus e a comprometer-se com a Missão de Deus no mundo. A Igreja é a verdadeira comunidade missionária.
Em Mt 24.14 a Bíblia registra o programa de alcance geográfico da missão: “todo o mundo”. Também mostra o alcance da missão no tempo: “então virá o fim”.
René Padilla expressa assim esse pensamento:
“A missão pode ou não envolver o cruzamento de fronteiras geográficas; porém, em qualquer caso, envolve primordialmente o cruzamento da fronteira entre o que é fé e o que não é, seja na terra natal (at home) ou no exterior (no ‘campo missionário’), em função do testemunho acerca de Jesus Cristo como Senhor da vida como um todo e de toda a criação”.
E em Jo 4.31-38 vemos que:
1. Devemos ter a visão de missão como a obra que exige primazia (Jo 4.31-34);
2. Devemos ter a visão de missão como o desafio de cada ocasião e oportunidade (Jo 4.34,35);
3. Devemos ter a visão de missão como o meio de edificar e construir para a eternidade (Jo 4.36-38).
Assim sendo, o plano de Deus para a salvação do homem é constituído de três elementos: a mensagem (o Evangelho, as boas novas de salvação em Jesus Cristo), o meio (a missão, enviar) e o processo (a evangelização, a proclamação).
Nos laços do Calvário que nos une,
Rev. Luciano Paes Landim.
Bibliografia:
Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. (2000). Miniaurélio Século XXI, o minidicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro, RJ: Editora Nova Fronteira.
Gildásio Reis. Missões, Por Uma Conceituação Reformada. Extraído do site: www.monergismo.com [acesso em 20 de maio de 2011].
Hoover, Thomas Reginald. (1993). Missões, o Ide Levado a Sério. Rio de Janeiro, RJ: CPAD.
Padilla, C. René. (2009). O Que é Missão Integral? Viçosa, MG: Editora Ultimato.
Pino, Carlos del. (2004). O Evangelho Para o Mundo. Goiânia, GO: Editora Logos.
Queiroz, Edison. (2009). A Igreja Local e Missões. São Paulo, SP: Vida Nova.
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