quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Sobre incompetência pastoral

Por Misael Nascimento 

Pastores são, pelas peculiaridades da função, incompetentes. Desde 1987 tenho atuado na liderança de comunidades cristãs, 7 anos como evangelista e plantador da Igreja Presbiteriana de Valparaíso, treze anos como pastor da Igreja Presbiteriana Central do Gama e, desde 2010, servindo ao Senhor na Igreja Presbiteriana de São José do Rio Preto. A cada dia que passa, percebo que o pastoreio de igrejas é uma tarefa singular.
Primeiro existe a questão da vocação, do chamado específico. Nenhum pastor autêntico escolhe o pastorado. O ministro da Palavra não é um voluntário precipitado, mas alguém que recebe uma ordem superior, que lhe domina o coração, que dirige as circunstâncias externas e que o orienta de forma absoluta ao serviço cristão em tempo integral. Deus não aprova profetas autodesignados (Jr 23.21). Nesse sentido, um pastor é diferente de um engenheiro ou de um médico. Estes escolhem suas profissões — alguns desde a infância ou adolescência — enquanto o pastor é escolhido, chamado e direcionado. A vocação encontra, inicialmente, renitência, até o ponto em que estabelece o alinhamento da vontade do homem com a vontade divina. Essa é a primeira singularidade.
Segundo, quais são as atribuições de um pastor? O NT dirá que é orar, ocupar-se com a Escritura e capacitar os crentes para que estes sirvam ao Senhor e cresçam em maturidade (At 6.4; Ef 4.11-16). O termo poimenas, “pastores” implica em supervisão do rebanho — o cuidado contínuo, zeloso, preocupado com a saúde e bem-estar das ovelhas.
Assim sendo, parece que o NT focaliza muito bem as atribuições pastorais. No entanto, deve ser observado que essa demanda não pode ser atendida por um só homem. Por isso, a Escritura estabelece não apenas um líder, mas também uma equipe e, por fim, uma comunidade de pastoreio. O pastor não pastoreia sozinho, mas lidera um corpo regulado e suprido pelo Espírito Santo. De modo abrangente, todos os crentes são responsabilizados pelo cuidado uns dos outros (Mt 18.15 et seq.; Gl 6.1-2; Ef 4.1-6; Cl 3.16; Hb 10.24-25) e, mais especificamente, uma equipe de presbíteros — liderada pelo pastor — é responsabilizada pelo governo e cuidado da congregação (At 20.28-31).
Deus orienta que as igrejas funcionem desse modo, porque é impossível, para um homem só, cuidar de todos os crentes, atender a todas as necessidades e interagir com todos os problemas de uma comunidade. Moisés tentou fazer isso, terminou esgotado e com uma congregação descontente. A solução foi dividir a tarefa com outros (Êx 18.13-26).
Além disso, pastores não são solucionadores de problemas. Não são como profissionais que têm respostas e soluções para todas as questões relativas às suas áreas de atuação (na verdade, não existe profissional que conheça toda as respostas). Pastores não são gurus todo-poderosos, que resolvem tudo para todos, mas guias espirituais de oração e meditação nas Escrituras, amigos e companheiros que lideram pelo exemplo e que interagem com os crentes na caminhada de aperfeiçoamento cristão (confesso que demorei para aprender esse fato simples: eu não sou Deus — At 15.8-18). Um pastor é alguém que se coloca ao lado para tentar discernir o que Deus está fazendo. Mas quem opera salvação, santificação e consolação é Deus, de quem tanto o pastor quanto os outros membros da igreja são filhos. Um pastor, ao mesmo tempo em que é líder, é irmão entre irmãos e servo entre servos.
Biblicamente, as coisas são claras, mas, na rotina diária da igreja local, tudo fica turvo. É virtualmente impossível conciliar as exigências múltiplas de estudo, oração, atendimentos, visitações, administração e liderança estratégica. Como os campos de atuação são muito amplos, o pastoreio se torna uma das poucas atividades humanas em que você retorna pra casa, a cada noite, com a certeza de que foi incompetente, de que não conseguiu fazer tudo o que deveria. Você não manteve devoção suficiente, não orou pelas pessoas com profundidade e fervor suficientes, não atendeu nem visitou suficientemente, não administrou nem liderou eficazmente. Sempre há um senão, sempre uma pendência, sempre uma demanda não atendida. E as poucas coisas que você conseguiu fazer, fez mal. Converso com outros colegas que compartilham do mesmo sentimento. Converso com crentes de outras igrejas e ouço, normalmente, críticas ao trabalho pastoral, confirmando que essa é uma experiência talvez generalizada.
— Meu pastor só pensa em evangelismo e não alimenta a igreja com doutrina. Nossa igreja precisa de um pastor mais teológico.
— Meu pastor só pensa em teologia e não sai do gabinete de estudos. Nossa igreja precisa de um pastormais evangelista.
— Meu pastor só pensa em campanhas evangelísticas e estudos bíblicos mas não visita. Nossa igreja precisa de um pastor visitador.
— Meu pastor passa dia e noite na casa dos membros da igreja; ele só sabe visitar. Nunca o encontramos no gabinete e as pregações são muito fracas. Precisamos de um pastor que aconselhe e alimente a igreja com pregações mais densas.
— Meu pastor descuida da administração. Nossa igreja precisa de um pastor mais organizado.
— Meu pastor é organizado mas não sabe liderar. Nossa igreja precisa saber para onde vai; carecemos de um líder estratégico.
— Meu pastor é muito simples. Nossa igreja precisa de alguém mais sofisticado.
— Meu pastor é muito sofisticado. Nossa igreja precisa de um líder mais simples.
— Meu pastor só pensa nos jovens. Nossa igreja precisa de um pastor que cuide dos casais que estão passando por crises.
— Meu pastor só cuida dos idosos. Nossa igreja precisa de um pastor que fale a linguagem dos jovens.
E a lista de reclamações é virtualmente infinita. O pior é que, para tentar resolver a questão, algumas igrejas mudam de pastor a cada dois ou três anos, na busca do “pastor ideal”. Ao fazer isso, tais comunidades são confirmadas no infantilismo e fraqueza espiritual.
Creio na providência divina. Tenho convicção de que tudo o que acontece, a cada dia, encaixa-se no plano perfeito de Deus. Por isso entendo que o Senhor está indicando que as brechas de atendimento pastoral sempre existirão. Nenhum pastor conseguirá atender a todas as necessidades de uma igreja, em tempo algum. Por que? Simples. Cristãos não são supridos por pastores, mas pelo Supremo Pastor(Sl 23.1; Jo 10.1-18). O Senhor Jesus Cristo é o Pastor Todo-Poderoso, eu sou reles pulga incompetente, nada mais do que isso. O Senhor Jesus Cristo é quem edifica a igreja (Mt 16.18), enquanto eu sou mero servo cheio de falhas.
Terceiro, qual o parâmetro para avaliação do trabalho de um pastor? Isso decorre diretamente do segundo ponto. Um pastor deve ser avaliado por sua excelência em tudo ou por sua atuação fiel aos termos gerais do pastorado e ao seu perfil específico de dons? O pastor que se avalia buscando ser tudo para todos é engolido pela frustração e desespero. A igreja que deseja um pastor que seja tudo para todos sucumbe diante do mito do “pastor perfeito” e não consegue estabelecer relações vitalícias com nenhum obreiro. A avaliação baseada nesse parâmetro é cruel tanto para o pastor quanto para a igreja local.
Pastores devem ser avaliados por sua fidelidade a Deus e ao evangelho (1Co 4.1-2). Líderes cristãos devem ser avaliados mais por seu caráter do que por seu alto nível de desempenho gerencial (1Tm 3.1-13). Isso é assim porque a igreja não é uma empresa, mas o corpo de Cristo sustentado por graça, não por méritos (Lm 3.22-23). Pastores lidam com o rebanho graciosamente; o rebanho deve lidar com o pastor da mesma forma. Ambos convivem em paz e amor, em favor imerecido.
Pastores devem ser avaliados por sua responsabilidade e eficiência no uso de seus dons espirituais e perfis de ministério. Um pastor que possua o dom de ensino, deve ser avaliado por seu empenho em estudar e transmitir a Palavra com clareza e fidelidade. Um pastor com um perfil de visitação deve ser avaliado por sua presteza em prestar ajuda aos membros e acompanhá-los nas diversas fases de suas vidas. Igrejas precisam aprender a enxergar as virtudes de seus pastores e buscar meios para cobrir suas deficiências, o que normalmente ocorre com o estabelecimento de uma equipe de serviço formada por presbíteros regentes, presbíteros docentes, diáconos e e voluntários possuidores de perfis e dons complementares.
Pastores sofrem com críticas que, no fundo, confirmam exigências para que eles sejam o que não são. Posso contar alguns “causos” de colegas que foram maltratados por Conselhos que exigiam deles o que eles não podiam dar e, ao invés de buscarem soluções bíblicas, honestas, dignas e honrosas, optaram por esquemas de humilhação do obreiro.
Quarto e último, de onde vem a motivação para o trabalho do pastor? Este é o ponto, pois, se o pastoreio envolve o sentimento constante de incompetência e a possibilidade de críticas e desvalorização por parte das igrejas locais, qual é a fonte de motivação do pastor?
Antes de assumir o pastoreio de uma igreja por tempo integral, trabalhei para a iniciativa privada durante 16 anos. No ambiente empresarial, somos motivados com homenagens, promoções, aumentos de salário e premiações.
O serviço eclesiástico, porém, é uma esfera completamente distinta, que exige que o líder espiritual seja motivado unicamente por Deus. O profeta Jeremias encontrou alento enchendo sua memória de “tópicos de esperança” e reconhecendo Deus como sua “porção”. Isso o fortaleceu para suportar o “jugo na sua mocidade” (Lm 3.21, 24-27). Eis um bom modelo para o pastor. O serviço pastoral é privado de todo reconhecimento ao mesmo tempo em que recebe tudo; ele encaminha-se no sofrimento ao mesmo tempo em que é suprido por imensa e misteriosa alegria (2Co 6.4-10).
Certamente o pastor alegra-se e recebe motivação ao ver os frutos da obra de Deus na igreja (Fp 1.3-6; 1Ts 1.2-10). Além disso, o pastor recebe motivação quando a igreja colabora com sua liderança (Hb 13.17). Esse, porém, não é o padrão, nem bíblico, nem histórico. Moisés, Josué, os profetas, Jesus Cristo e o apóstolo Paulo tiveram de lidar com incompreensões, dissensões e oposições provindas de seus liderados. Os pastores do passado também (Jonathan Edwards, repudiado por sua congregação depois de mais de duas décadas de serviço fiel e dedicado, é um exemplo clássico).
Daí a necessidade de absorção das recomendações e promessas de 1Pe 5.1-4:
Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada: pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória.
Nele está nossa competência, nossa motivação, nossa salvação e nosso prêmio. Apegar-se ao Senhor e às suas promessas, eis o segredo para a continuidade do ministério pastoral feliz, com coração pacificado e transbordante de motivação.
Fonte: http://www.misaelbn.com/2015/11/sobre-incompetencia-pastoral/

Luiz Sayão fala sobre a síndrome do filho de pastor

 

"A proposta da redenção e da vida eterna que a Bíblia nos apresenta significa esse agir de Deus em função de produzir esse bem maior"
Bacharel em Linguística e Hebraico e mestre em Hebraico pela Universidade de São Paulo, Luiz Alberto Sayão é pastor da Igreja Batista Nações Unidas (São Paulo) e tradutor da Bíblia, tendo coordenado a publicação da Nova Versão Internacional, entre muitos outros trabalhos. Líder evangélico respeitado no Brasil e no mundo, ele também é editor e autor de várias obras, como “Novo Testamento Trilíngue”, “Novo Testamento Esperança” e “Antigo Testamento Poliglota”, “O Problema do Mal no Antigo Testamento”, “Agora Sim: Teologia na Prática do Começo ao Fim” e a “Bíblia de Estudo em Áudio Rota 66”.

Como foi participar da tradução da Nova Versão Internacional da Bíblia?
Na verdade eu trabalhei em três projetos diferentes de Bíblia. Primeiro foi a Nova Versão Internacional. As versões que a gente tinha à disposição na década de 90 eram basicamente variações da feita por João Ferreira de Almeida, uma versão com importância histórica muito grande. Mas, à medida que o tempo passou, ela se tornou menos compreendida do que era anteriormente. Há pessoas que têm mais dificuldade de entender. Isso não é uma realidade só da Língua Portuguesa, mas de outros idiomas. Nos Estados Unidos, iniciou-se um projeto também, chamado de “New International Version”. Como deu certo, abriu espaço para que fossem desenvolvidas iniciativas semelhantes em outras línguas, como Espanhol, Francês e Português. Quando foi sugerido esse projeto em Português, fui indicado. Fui coordenador-geral no projeto, em que empreguei um estilo que tivesse fluidez e que fosse contemporâneo, tendo a base no Grego, no Hebraico e no Aramaico. Foram oito anos de trabalho, com 19 estudiosos atuando na tradução.
O senhor acredita que, apesar de o mal ter a permissão divina, Deus o utiliza para produzir um bem maior? 
Com certeza essa é a convicção maior da cristandade da teologia cristã de todos os séculos. O mal no sentido de sofrimento e de pecado é permitido por Deus em função de Ele ter criado os seres livres. Os humanos fazem suas escolhas reais e, consequentemente, elas podem ser complicadas. Deus permite isso! A proposta da redenção e da vida eterna que a Bíblia nos apresenta significa esse agir de Deus em função de produzir esse bem maior nesse contexto. E isso acontece na prática. Passamos por enfermidades e dificuldades e aprendemos com isso. O crescimento espiritual é bem maior nesse contexto bíblico.
Num de seus artigos, intitulado de “Bendito seja Deus, que não responde orações”, o senhor aponta as reais razões para se fazer uma oração, não somente o fato de o Pai “atender pedidos”. Comente essas razões.
Na Bíblia, temos um pensamento diferente do mágico, sendo que este é ocultista. É como se houvesse uma poção mágica que faz tudo acontecer. Muita gente, inconscientemente, acredita nisso, pensa que basta declarar e determinar que tudo é realizado. Mas não funciona assim. A ideia da oração é muito mais ampla. Oração é um mistério, submissão, exercício de fé e prova de dependência. Um dos fatores interessantes é que Deus responde orações, age com poder, mas algumas Ele não responde. Então, eu brinco com esta expressão: “Bendito seja Deus, que não responde orações”. Se a oração fosse uma arma à disposição de qualquer pessoa, muito vizinho nosso já estaria na Eternidade. Se com esse poder Ele conseguisse que as coisas acontecessem, seria complicado. Iríamos ser como criança mimada, que pede algo que não faz bem e utilizaria essa arma como reforço de seu narcisismo e egocentrismo. O objetivo do artigo é avaliar o objetivo das nossas orações.
Em relação à “síndrome de filho de pastor”, como entender que pessoas que desde crianças são ensinadas nas verdades de Deus tornam-se absolutamente refratárias à Palavra divina? 
Acho que uma boa parte da nossa tradição histórica é um pouco problemática e fora de foco. Na Bíblia, pastor não é ninguém especial. Não é um homem santo. Ele é um homem comum. Ele parece um técnico de futebol, que deve fazer com o que os servos sejam preparados, desenvolvam e amadureçam. Como a nossa tradição e cultura são outras, a gente faz com que essas pessoas sejam elevadas a uma categoria acima dos demais. Assim, elas precisam viver de acordo com as expectativas dos outros. Isso faz com que transfiram as “responsabilidades” para seus filhos, que são cobrados e sofrem pela falta de bom relacionamento e afeto. Por isso, vários filhos de gente religiosa “travam” no meio do caminho e ficam com dificuldade em relação à fé.
Num outro artigo, o senhor diz que “as crianças são pecadoras desde o nascimento, conforme Salmo 51.5. Ninguém nasce inocente. Todos nós somos pecadores por natureza. Portanto, a crença de que as crianças são ‘anjinhos’ não tem fundamento nas Escrituras”. O que isso quer dizer? 
A ideia de que a criança é inocente é católica medieval. A Bíblia não ensina isso. Até por causa da tradução equivocada, que diz “o reino dos céus é delas”. Na verdade, o sentido do original é “dos que são semelhantes a elas” na forma de receber a Palavra. Se não fosse assim, por que precisamos pregar o Evangelho para crianças? É claro que a criança não tem a maldade desenvolvida. Quando uma criança é pecadora, significa que ela é um ser humano com inclinação ao mal. Ninguém se torna pecador depois de certa idade. Você nasce em condições de fragilidade moral. Não é preciso ensinar desobediência a uma criança. Ela aprende sozinha. Ela grita, protesta, fica com raiva, faz pirraça. Então, a criança é humana. É nesse consenso cristão que toda criança nasce na condição de pecadora. Mas não quer dizer que ela seja cruel, quer dizer que ela é um ser humano, tem natureza pecaminosa.
Como o senhor avalia a questão do ministério feminino nas igrejas evangélicas?
Tem um artigo interessante que escrevi, “Nem pastores nem pastoras”, que explica bem o que penso sobre isso. A discussão sobre o ministério feminino, hoje, entra por um caminho muito diferente da do Novo Testamento. O que se pensa é que ser pastor é um privilégio, ser pastor significa estar numa posição elevada e que se os homens têm esse direito, esse privilégio. Logo, imagina-se que as mulheres devem ter também. Acaba surgindo uma disputa para atingir as posições mais elevadas da igreja. O problema é que no Novo Testamento essa ideia não faz o mínimo sentido. A vida pastoral é de serviço. Pastor não tem autoridade nenhuma em si mesmo. Ele tem duas fontes de autoridade: A Palavra divina e a autoridade na comunidade onde ele atua. A igreja é que é a última autoridade, e o pastor representa essa autoridade. Por um lado, existe uma série de elementos de vários textos no Novo Testamento que favorece o envolvimento das mulheres nessas atividades e outros textos que as limitam. É importante que elas estejam envolvidas nesse contexto. Existe na Bíblia um igualitarismo ontológico essencial, mas existe uma hierarquia funcional.
A crise econômica já tem afetado as igrejas, elas já estão sentindo o impacto deste momento. Qual o conselho que o senhor daria às lideranças?
É difícil. A gente não sabe até onde vai o fundo do poço. Temos dois problemas! Um de ordem internacional, que é uma conjuntura que envolve China, Estados Unidos e o mercado internacional, onde o Brasil está inserido. E temos um segundo problema complicado, que é a crise política interna, que tem trazido toda essa confusão e inoperância. Para um momento destes, é preciso sobriedade e bom senso, no sentido de as pessoas saberem caminhar no período das “vacas magras”. Então, se as pessoas estão acostumadas com um estilo “X” de vida, agora precisam viver de forma equilibrada. Além da crise real, há a crise psicológica, em que as pessoas, por pavor, multiplicam a amplitude da crise ainda que inconsciente. Tivemos momentos muito mais difíceis no passado, em que as pessoas conseguiram prosperar. A gente tem de saber qual atitude tomar e não pode se apavorar.
Como o senhor está vendo a prática do Evangelho nas igrejas modernas. Elas estão sendo éticas? 
Temos que ser realistas. A maneira como a gente critica a ética de nossa igreja não está correta. Grande parte dos crentes que frequentam os templos atualmente se tornou cristã há menos de 10 anos. É muita gente nova! E a nossa sociedade, historicamente, tem lacunas éticas, sendo que isso é um problema mundial, e aqui no Brasil não é diferente. Então, não se espera dessa igreja recente progressos éticos extraordinários. Lembrando que pessoas que se tornaram evangélicas recentemente tiveram mudanças em suas vidas para melhor. Há também uma espiritualidade problemática. Quando a espiritualidade é muito alienadora, quando é uma espiritualidade muito desfocada, efervescente e com pouco conteúdo, a ética vai sofrer.
Como o senhor avalia o caso da escrivã americana que se recusou a fazer a certidão de casamento para um casal homoafetivo?
Precisamos separar duas coisas. Uma é a condição homossexual. Se a pessoa tem essa tendência, numa sociedade democrática, tem o direito de dar a sua opinião. Outra coisa é a proposta política do movimento LGBT. Há intenções que vão muito além de se ter simpatia com o público homossexual. A última Parada Gay de São Paulo mostrou atitudes de deboche desnecessário. Então, a pergunta é “para qual lado a lei funciona?”. Assim como os grupos que defendem os homossexuais podem ter direitos de fazer o que querem, os outros grupos também devem ter seus direitos garantidos. Por exemplo, existe uma jornada normal de trabalho, mas se o sujeito é adventista, ele consegue ser respeitado e não trabalhar mais a partir do pôr do sol da sexta-feira. Se a pessoa quer fazer o casamento homossexual, que faça. Se a pessoa não quiser fazer, precisa ser respeitada e ter o direito de não fazer. Ou a gente convive democraticamente com opiniões diferentes ou a gente vai passar por essas situações como a da escrivã injustiçada. Daqui a pouco, quando um juiz decidir que não vai dar a guarda de uma criança para um casal homossexual, ele também poderá ser prejudicado. Ele tem ou não o direito de decidir o que fazer?
E sobre a situação dos refugiados. Aqui no Espírito Santo há um projeto que acolhe refugiados, especialmente os sírios, e os encaminha. O que acha dessa situação?
É uma questão muito ampla. A Síria está um caos, e as potências mundiais não querem resolver essa situação, pois se quisessem teriam resolvido. Então, a gente vai ter uma ebulição na Síria e no Oriente Médio que continuará multiplicando refugiados. É algo muito estranho o que está acontecendo, pois há uma série de países árabes ricos e com muita condição de fazer alguma coisa para os refugiados, como Emirados Árabes, Kuwait, Arábia Saudita. Porém, esses países não estão recebendo ninguém. A Jordânia, por exemplo, abriga mais de 2 milhões de refugiados, mas o primo rico ao lado, a Arábia Saudita, não recebe ninguém. Eles são árabes, têm a mesma cultura e recursos. Penso que a comunidade internacional deveria ter um posicionamento e fazer com que esses países ricos também “paguem a conta” dessa tragédia humanitária. Em relação à vinda para o Ocidente, penso que a situação de necessidade deles é das piores, mas aqui também não está nada bom. Só há um detalhe! Nesse contexto, virão muitos que têm outros objetivos além de se abrigar. É importante lembrar que esses refugiados precisam se adaptar à realidade do local onde eles foram abrigados, pois há alguns lugares na Europa onde as comunidades estrangeiras vindas do Oriente Médio querem implantar a lei deles lá. É preciso deixar claro para eles que precisam viver dentro da realidade do novo país onde viverão.
Fonte: http://www.comunhao.com.br/index.php/materias/156-entrevistas/10990-luiz-sayao-fala-sobre-a-sindrome-do-filho-de-pastor

Homem chora? E pastor, chora?

Em meus 25 anos de ministério não foram poucas as vezes em que derramei lágrimas. Para alguns, esta é uma confissão de fraqueza. Mas, se isso é verdade, agravo minha confissão dizendo que, nos últimos anos, chorei bem mais do que nos primeiros. Alguém poderia pensar que quanto mais experientes nos tornamos, menos propensos a estas "fraquezas" ficamos. No entanto, não é assim que tem acontecido em minha vida e ministério.

Talvez isso seja devido ao fato de que, nos primeiros anos de ministério, tinha uma visão superestimada de minhas potencialidades e conhecia bem pouco as minhas limitações. Na medida em que o tempo passa, tornamo-nos mais conscientes de que nossas potencialidades não são tão grandes quanto imaginávamos e descobrimos que nossas limitações são muito mais presentes em nossas vidas do que um dia consideramos.

Soma-se a isso o fato de que, quando mais jovem, era movido por sonhos e pela esperança de ver transformação efetiva nas pessoas, nos relacionamentos e nas instituições. No entanto, à medida em que o tempo passa, entramos em contato com uma realidade bem mais complexa do que um dia sonhamos. Essa realidade conduz alguns a uma atitude de rendição e conivência, uns a um sentimento de amargura, e outros às lágrimas da inconformidade.

Mas, diante da constatação de que as lágrimas têm estado cada vez mais presentes em minha experiência, resolvi fazer um balanço para verificar quais são as situações em que, mais constantemente, as lágrimas surgiram.

Em primeiro lugar, disparado, se encontram as situações em que me deparei com minhas próprias limitações como filho, irmão, marido, pai, amigo e, principalmente, pastor. Não se trata de reconhecimento de erros, mas sim de limitações e impotências. São situações que em concluí que não tenho como corresponder as expectativas daqueles que me cercam, pois não tenho para oferecer o que esperam de mim.

Em segundo lugar, estão as circunstâncias em que topei com a ingratidão. Não estou falando de qualquer tipo de ingratidão: tenho em mente aquela gerada em relacionamentos pastorais nos quais depositei em conta tempo e esforço para ajudar, apoiar, restaurar e reconduzir. No entanto, no momento em que necessitei sacar um pouco de compreensão e amizade, descobri que não tinha qualquer saldo.

Em terceiro lugar, estão as situações em que me senti só. Por mais que existam teorias e discursos que tentem nos convencer de que precisamos ter amigos ao longo da caminhada para compartilharmos nossas dores e frustrações, é inevitável que tenhamos que passar por momentos em que nos deparamos com a solidão. Isso porque ninguém efetivamente conhece o peso e a responsabilidade de nossa própria vocação.

Mas se estes são os três momentos em que as lágrimas surgem em meus olhos mais constantemente, como lido com eles e experimento algum tipo de encorajamento?

As lágrimas geradas pela consciência de minhas próprias limitações tem me levado à conclusão de que eu preciso de um redentor. Não são apenas as pessoas que me escutam domingo após domingo que precisam de um salvador. Eu também preciso! Se alguma coisa boa vai ser gerada a partir da minha vida é porque alguém me resgatou de minhas próprias limitações e me capacitou de forma extraordinária.

As lágrimas geradas pela ingratidão tem-me levado a relembrar minha motivação primária ao envolver-me em uma relação pastoral. As palavras de Jesus para Pedro em João 21 foram: "Tu me amas? Então pastoreia minhas ovelhas". Logo, preciso lembrar meu próprio coração que meu envolvimento pastoral tem mais a ver com minha relação de amor com Jesus do que com a expectativa de reconhecimento das pessoas.

Por fim, as lágrimas derramadas pela solidão tem-me ensinado a conhecer a solitude. Enquanto a solidão é um ambiente danoso para nossas vidas, ele pode nos propiciar a rica experiência da solitude, na qual buscamos a Deus como a fonte primária de nossas forças e de quem ouvimos a voz que nos reorienta e nos restaura. Acima de tudo, se o bom e supremo pastor, enquanto homem, chorou, porque eu, que nem sou bom, não deveria me dar o direito de chorar?

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quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Sugestão de Leitura: Livro "Marcas de Um Evangelista"


Sinopse: Muitos, hoje em dia , pensam que a evangelização depende de um bom método . Porem, a raiz da evangelização bíblica e muito mais profunda . A evangelização esta ligada aquilo nos torna mensageiros íntegros e fieis , a verdade de Deus sobre Jesus Cristo . Mack Stiles tem vivido a vida de um evangelista. Vivendo em Dubai, nos Emirados Árabes e tendo oportunidade de falar do evangelho para pessoas de todas as partes do mundo. Mack oferece neste livro algumas verdades básicas que podem tornar qualquer um de nos em evangelistas fieis , que conhecem , amam e falam o evangelho da salvação .

LANÇAMENTO DA REVISTA MISSIONÁRIA “MISSIO DEI”

Estamos no mês de aniversário da Missão SAEM. No dia 21 de abril, comemoraremos 18 anos de existência da Sociedade de Apoio Evangelístico e ...