"A
proposta da redenção e da vida eterna que a Bíblia nos apresenta significa esse
agir de Deus em função de produzir esse bem maior"
Bacharel
em Linguística e Hebraico e mestre em Hebraico pela Universidade de São Paulo,
Luiz Alberto Sayão é pastor da Igreja Batista Nações Unidas (São Paulo) e
tradutor da Bíblia, tendo coordenado a publicação da Nova Versão Internacional,
entre muitos outros trabalhos. Líder evangélico respeitado no Brasil e no mundo,
ele também é editor e autor de várias obras, como “Novo Testamento Trilíngue”,
“Novo Testamento Esperança” e “Antigo Testamento Poliglota”, “O Problema do Mal
no Antigo Testamento”, “Agora Sim: Teologia na Prática do Começo ao Fim” e a
“Bíblia de Estudo em Áudio Rota 66”.
Como foi participar da tradução
da Nova Versão Internacional da Bíblia?
Na
verdade eu trabalhei em três projetos diferentes de Bíblia. Primeiro foi a Nova
Versão Internacional. As versões que a gente tinha à disposição na década de 90
eram basicamente variações da feita por João Ferreira de Almeida, uma versão
com importância histórica muito grande. Mas, à medida que o tempo passou, ela
se tornou menos compreendida do que era anteriormente. Há pessoas que têm mais
dificuldade de entender. Isso não é uma realidade só da Língua Portuguesa, mas
de outros idiomas. Nos Estados Unidos, iniciou-se um projeto também, chamado de
“New International Version”. Como deu certo, abriu espaço para que fossem
desenvolvidas iniciativas semelhantes em outras línguas, como Espanhol, Francês
e Português. Quando foi sugerido esse projeto em Português, fui indicado. Fui
coordenador-geral no projeto, em que empreguei um estilo que tivesse fluidez e
que fosse contemporâneo, tendo a base no Grego, no Hebraico e no Aramaico.
Foram oito anos de trabalho, com 19 estudiosos atuando na tradução.
O senhor acredita que, apesar
de o mal ter a permissão divina, Deus o utiliza para produzir um bem maior?
Com
certeza essa é a convicção maior da cristandade da teologia cristã de todos os
séculos. O mal no sentido de sofrimento e de pecado é permitido por Deus em
função de Ele ter criado os seres livres. Os humanos fazem suas escolhas reais
e, consequentemente, elas podem ser complicadas. Deus permite isso! A proposta
da redenção e da vida eterna que a Bíblia nos apresenta significa esse agir de
Deus em função de produzir esse bem maior nesse contexto. E isso acontece na
prática. Passamos por enfermidades e dificuldades e aprendemos com isso. O
crescimento espiritual é bem maior nesse contexto bíblico.
Num de seus artigos, intitulado
de “Bendito seja Deus, que não responde orações”, o senhor aponta as reais
razões para se fazer uma oração, não somente o fato de o Pai “atender pedidos”.
Comente essas razões.
Na
Bíblia, temos um pensamento diferente do mágico, sendo que este é ocultista. É
como se houvesse uma poção mágica que faz tudo acontecer. Muita gente,
inconscientemente, acredita nisso, pensa que basta declarar e determinar que
tudo é realizado. Mas não funciona assim. A ideia da oração é muito mais ampla.
Oração é um mistério, submissão, exercício de fé e prova de dependência. Um dos
fatores interessantes é que Deus responde orações, age com poder, mas algumas
Ele não responde. Então, eu brinco com esta expressão: “Bendito seja Deus, que
não responde orações”. Se a oração fosse uma arma à disposição de qualquer
pessoa, muito vizinho nosso já estaria na Eternidade. Se com esse poder Ele
conseguisse que as coisas acontecessem, seria complicado. Iríamos ser como
criança mimada, que pede algo que não faz bem e utilizaria essa arma como
reforço de seu narcisismo e egocentrismo. O objetivo do artigo é avaliar o
objetivo das nossas orações.
Em relação à “síndrome de filho
de pastor”, como entender que pessoas que desde crianças são ensinadas nas
verdades de Deus tornam-se absolutamente refratárias à Palavra divina?
Acho
que uma boa parte da nossa tradição histórica é um pouco problemática e fora de
foco. Na Bíblia, pastor não é ninguém especial. Não é um homem santo. Ele é um
homem comum. Ele parece um técnico de futebol, que deve fazer com o que os
servos sejam preparados, desenvolvam e amadureçam. Como a nossa tradição e
cultura são outras, a gente faz com que essas pessoas sejam elevadas a uma
categoria acima dos demais. Assim, elas precisam viver de acordo com as
expectativas dos outros. Isso faz com que transfiram as “responsabilidades”
para seus filhos, que são cobrados e sofrem pela falta de bom relacionamento e
afeto. Por isso, vários filhos de gente religiosa “travam” no meio do caminho e
ficam com dificuldade em relação à fé.
Num outro artigo, o senhor diz
que “as crianças são pecadoras desde o nascimento, conforme Salmo 51.5. Ninguém
nasce inocente. Todos nós somos pecadores por natureza. Portanto, a crença de
que as crianças são ‘anjinhos’ não tem fundamento nas Escrituras”. O que isso
quer dizer?
A
ideia de que a criança é inocente é católica medieval. A Bíblia não ensina
isso. Até por causa da tradução equivocada, que diz “o reino dos céus é delas”.
Na verdade, o sentido do original é “dos que são semelhantes a elas” na forma
de receber a Palavra. Se não fosse assim, por que precisamos pregar o Evangelho
para crianças? É claro que a criança não tem a maldade desenvolvida. Quando uma
criança é pecadora, significa que ela é um ser humano com inclinação ao mal.
Ninguém se torna pecador depois de certa idade. Você nasce em condições de
fragilidade moral. Não é preciso ensinar desobediência a uma criança. Ela aprende
sozinha. Ela grita, protesta, fica com raiva, faz pirraça. Então, a criança é
humana. É nesse consenso cristão que toda criança nasce na condição de
pecadora. Mas não quer dizer que ela seja cruel, quer dizer que ela é um ser
humano, tem natureza pecaminosa.
Como o senhor avalia a questão
do ministério feminino nas igrejas evangélicas?
Tem
um artigo interessante que escrevi, “Nem pastores nem pastoras”, que explica
bem o que penso sobre isso. A discussão sobre o ministério feminino, hoje,
entra por um caminho muito diferente da do Novo Testamento. O que se pensa é
que ser pastor é um privilégio, ser pastor significa estar numa posição elevada
e que se os homens têm esse direito, esse privilégio. Logo, imagina-se que as
mulheres devem ter também. Acaba surgindo uma disputa para atingir as posições
mais elevadas da igreja. O problema é que no Novo Testamento essa ideia não faz
o mínimo sentido. A vida pastoral é de serviço. Pastor não tem autoridade
nenhuma em si mesmo. Ele tem duas fontes de autoridade: A Palavra divina e a
autoridade na comunidade onde ele atua. A igreja é que é a última autoridade, e
o pastor representa essa autoridade. Por um lado, existe uma série de elementos
de vários textos no Novo Testamento que favorece o envolvimento das mulheres
nessas atividades e outros textos que as limitam. É importante que elas estejam
envolvidas nesse contexto. Existe na Bíblia um igualitarismo ontológico
essencial, mas existe uma hierarquia funcional.
A crise econômica já tem
afetado as igrejas, elas já estão sentindo o impacto deste momento. Qual o
conselho que o senhor daria às lideranças?
É
difícil. A gente não sabe até onde vai o fundo do poço. Temos dois problemas!
Um de ordem internacional, que é uma conjuntura que envolve China, Estados
Unidos e o mercado internacional, onde o Brasil está inserido. E temos um
segundo problema complicado, que é a crise política interna, que tem trazido
toda essa confusão e inoperância. Para um momento destes, é preciso sobriedade
e bom senso, no sentido de as pessoas saberem caminhar no período das “vacas
magras”. Então, se as pessoas estão acostumadas com um estilo “X” de vida,
agora precisam viver de forma equilibrada. Além da crise real, há a crise
psicológica, em que as pessoas, por pavor, multiplicam a amplitude da crise
ainda que inconsciente. Tivemos momentos muito mais difíceis no passado, em que
as pessoas conseguiram prosperar. A gente tem de saber qual atitude tomar e não
pode se apavorar.
Como o senhor está vendo a
prática do Evangelho nas igrejas modernas. Elas estão sendo éticas?
Temos
que ser realistas. A maneira como a gente critica a ética de nossa igreja não
está correta. Grande parte dos crentes que frequentam os templos atualmente se
tornou cristã há menos de 10 anos. É muita gente nova! E a nossa sociedade,
historicamente, tem lacunas éticas, sendo que isso é um problema mundial, e
aqui no Brasil não é diferente. Então, não se espera dessa igreja recente
progressos éticos extraordinários. Lembrando que pessoas que se tornaram
evangélicas recentemente tiveram mudanças em suas vidas para melhor. Há também
uma espiritualidade problemática. Quando a espiritualidade é muito alienadora,
quando é uma espiritualidade muito desfocada, efervescente e com pouco
conteúdo, a ética vai sofrer.
Como o senhor avalia o caso da
escrivã americana que se recusou a fazer a certidão de casamento para um casal
homoafetivo?
Precisamos
separar duas coisas. Uma é a condição homossexual. Se a pessoa tem essa
tendência, numa sociedade democrática, tem o direito de dar a sua opinião.
Outra coisa é a proposta política do movimento LGBT. Há intenções que vão muito
além de se ter simpatia com o público homossexual. A última Parada Gay de São
Paulo mostrou atitudes de deboche desnecessário. Então, a pergunta é “para qual
lado a lei funciona?”. Assim como os grupos que defendem os homossexuais podem
ter direitos de fazer o que querem, os outros grupos também devem ter seus
direitos garantidos. Por exemplo, existe uma jornada normal de trabalho, mas se
o sujeito é adventista, ele consegue ser respeitado e não trabalhar mais a
partir do pôr do sol da sexta-feira. Se a pessoa quer fazer o casamento
homossexual, que faça. Se a pessoa não quiser fazer, precisa ser respeitada e
ter o direito de não fazer. Ou a gente convive democraticamente com opiniões
diferentes ou a gente vai passar por essas situações como a da escrivã
injustiçada. Daqui a pouco, quando um juiz decidir que não vai dar a guarda de
uma criança para um casal homossexual, ele também poderá ser prejudicado. Ele
tem ou não o direito de decidir o que fazer?
E sobre a situação dos
refugiados. Aqui no Espírito Santo há um projeto que acolhe refugiados,
especialmente os sírios, e os encaminha. O que acha dessa situação?
É
uma questão muito ampla. A Síria está um caos, e as potências mundiais não
querem resolver essa situação, pois se quisessem teriam resolvido. Então, a
gente vai ter uma ebulição na Síria e no Oriente Médio que continuará
multiplicando refugiados. É algo muito estranho o que está acontecendo, pois há
uma série de países árabes ricos e com muita condição de fazer alguma coisa
para os refugiados, como Emirados Árabes, Kuwait, Arábia Saudita. Porém, esses
países não estão recebendo ninguém. A Jordânia, por exemplo, abriga mais de 2
milhões de refugiados, mas o primo rico ao lado, a Arábia Saudita, não recebe
ninguém. Eles são árabes, têm a mesma cultura e recursos. Penso que a
comunidade internacional deveria ter um posicionamento e fazer com que esses
países ricos também “paguem a conta” dessa tragédia humanitária. Em relação à
vinda para o Ocidente, penso que a situação de necessidade deles é das piores,
mas aqui também não está nada bom. Só há um detalhe! Nesse contexto, virão
muitos que têm outros objetivos além de se abrigar. É importante lembrar que
esses refugiados precisam se adaptar à realidade do local onde eles foram
abrigados, pois há alguns lugares na Europa onde as comunidades estrangeiras
vindas do Oriente Médio querem implantar a lei deles lá. É preciso deixar claro
para eles que precisam viver dentro da realidade do novo país onde viverão.
Fonte: http://www.comunhao.com.br/index.php/materias/156-entrevistas/10990-luiz-sayao-fala-sobre-a-sindrome-do-filho-de-pastor
"A
proposta da redenção e da vida eterna que a Bíblia nos apresenta significa esse
agir de Deus em função de produzir esse bem maior"
Bacharel
em Linguística e Hebraico e mestre em Hebraico pela Universidade de São Paulo,
Luiz Alberto Sayão é pastor da Igreja Batista Nações Unidas (São Paulo) e
tradutor da Bíblia, tendo coordenado a publicação da Nova Versão Internacional,
entre muitos outros trabalhos. Líder evangélico respeitado no Brasil e no mundo,
ele também é editor e autor de várias obras, como “Novo Testamento Trilíngue”,
“Novo Testamento Esperança” e “Antigo Testamento Poliglota”, “O Problema do Mal
no Antigo Testamento”, “Agora Sim: Teologia na Prática do Começo ao Fim” e a
“Bíblia de Estudo em Áudio Rota 66”.
Como foi participar da tradução
da Nova Versão Internacional da Bíblia?
Na
verdade eu trabalhei em três projetos diferentes de Bíblia. Primeiro foi a Nova
Versão Internacional. As versões que a gente tinha à disposição na década de 90
eram basicamente variações da feita por João Ferreira de Almeida, uma versão
com importância histórica muito grande. Mas, à medida que o tempo passou, ela
se tornou menos compreendida do que era anteriormente. Há pessoas que têm mais
dificuldade de entender. Isso não é uma realidade só da Língua Portuguesa, mas
de outros idiomas. Nos Estados Unidos, iniciou-se um projeto também, chamado de
“New International Version”. Como deu certo, abriu espaço para que fossem
desenvolvidas iniciativas semelhantes em outras línguas, como Espanhol, Francês
e Português. Quando foi sugerido esse projeto em Português, fui indicado. Fui
coordenador-geral no projeto, em que empreguei um estilo que tivesse fluidez e
que fosse contemporâneo, tendo a base no Grego, no Hebraico e no Aramaico.
Foram oito anos de trabalho, com 19 estudiosos atuando na tradução.
O senhor acredita que, apesar
de o mal ter a permissão divina, Deus o utiliza para produzir um bem maior?
Com
certeza essa é a convicção maior da cristandade da teologia cristã de todos os
séculos. O mal no sentido de sofrimento e de pecado é permitido por Deus em
função de Ele ter criado os seres livres. Os humanos fazem suas escolhas reais
e, consequentemente, elas podem ser complicadas. Deus permite isso! A proposta
da redenção e da vida eterna que a Bíblia nos apresenta significa esse agir de
Deus em função de produzir esse bem maior nesse contexto. E isso acontece na
prática. Passamos por enfermidades e dificuldades e aprendemos com isso. O
crescimento espiritual é bem maior nesse contexto bíblico.
Num de seus artigos, intitulado
de “Bendito seja Deus, que não responde orações”, o senhor aponta as reais
razões para se fazer uma oração, não somente o fato de o Pai “atender pedidos”.
Comente essas razões.
Na
Bíblia, temos um pensamento diferente do mágico, sendo que este é ocultista. É
como se houvesse uma poção mágica que faz tudo acontecer. Muita gente,
inconscientemente, acredita nisso, pensa que basta declarar e determinar que
tudo é realizado. Mas não funciona assim. A ideia da oração é muito mais ampla.
Oração é um mistério, submissão, exercício de fé e prova de dependência. Um dos
fatores interessantes é que Deus responde orações, age com poder, mas algumas
Ele não responde. Então, eu brinco com esta expressão: “Bendito seja Deus, que
não responde orações”. Se a oração fosse uma arma à disposição de qualquer
pessoa, muito vizinho nosso já estaria na Eternidade. Se com esse poder Ele
conseguisse que as coisas acontecessem, seria complicado. Iríamos ser como
criança mimada, que pede algo que não faz bem e utilizaria essa arma como
reforço de seu narcisismo e egocentrismo. O objetivo do artigo é avaliar o
objetivo das nossas orações.
Em relação à “síndrome de filho
de pastor”, como entender que pessoas que desde crianças são ensinadas nas
verdades de Deus tornam-se absolutamente refratárias à Palavra divina?
Acho
que uma boa parte da nossa tradição histórica é um pouco problemática e fora de
foco. Na Bíblia, pastor não é ninguém especial. Não é um homem santo. Ele é um
homem comum. Ele parece um técnico de futebol, que deve fazer com o que os
servos sejam preparados, desenvolvam e amadureçam. Como a nossa tradição e
cultura são outras, a gente faz com que essas pessoas sejam elevadas a uma
categoria acima dos demais. Assim, elas precisam viver de acordo com as
expectativas dos outros. Isso faz com que transfiram as “responsabilidades”
para seus filhos, que são cobrados e sofrem pela falta de bom relacionamento e
afeto. Por isso, vários filhos de gente religiosa “travam” no meio do caminho e
ficam com dificuldade em relação à fé.
Num outro artigo, o senhor diz
que “as crianças são pecadoras desde o nascimento, conforme Salmo 51.5. Ninguém
nasce inocente. Todos nós somos pecadores por natureza. Portanto, a crença de
que as crianças são ‘anjinhos’ não tem fundamento nas Escrituras”. O que isso
quer dizer?
A
ideia de que a criança é inocente é católica medieval. A Bíblia não ensina
isso. Até por causa da tradução equivocada, que diz “o reino dos céus é delas”.
Na verdade, o sentido do original é “dos que são semelhantes a elas” na forma
de receber a Palavra. Se não fosse assim, por que precisamos pregar o Evangelho
para crianças? É claro que a criança não tem a maldade desenvolvida. Quando uma
criança é pecadora, significa que ela é um ser humano com inclinação ao mal.
Ninguém se torna pecador depois de certa idade. Você nasce em condições de
fragilidade moral. Não é preciso ensinar desobediência a uma criança. Ela aprende
sozinha. Ela grita, protesta, fica com raiva, faz pirraça. Então, a criança é
humana. É nesse consenso cristão que toda criança nasce na condição de
pecadora. Mas não quer dizer que ela seja cruel, quer dizer que ela é um ser
humano, tem natureza pecaminosa.
Como o senhor avalia a questão
do ministério feminino nas igrejas evangélicas?
Tem
um artigo interessante que escrevi, “Nem pastores nem pastoras”, que explica
bem o que penso sobre isso. A discussão sobre o ministério feminino, hoje,
entra por um caminho muito diferente da do Novo Testamento. O que se pensa é
que ser pastor é um privilégio, ser pastor significa estar numa posição elevada
e que se os homens têm esse direito, esse privilégio. Logo, imagina-se que as
mulheres devem ter também. Acaba surgindo uma disputa para atingir as posições
mais elevadas da igreja. O problema é que no Novo Testamento essa ideia não faz
o mínimo sentido. A vida pastoral é de serviço. Pastor não tem autoridade
nenhuma em si mesmo. Ele tem duas fontes de autoridade: A Palavra divina e a
autoridade na comunidade onde ele atua. A igreja é que é a última autoridade, e
o pastor representa essa autoridade. Por um lado, existe uma série de elementos
de vários textos no Novo Testamento que favorece o envolvimento das mulheres
nessas atividades e outros textos que as limitam. É importante que elas estejam
envolvidas nesse contexto. Existe na Bíblia um igualitarismo ontológico
essencial, mas existe uma hierarquia funcional.
A crise econômica já tem
afetado as igrejas, elas já estão sentindo o impacto deste momento. Qual o
conselho que o senhor daria às lideranças?
É
difícil. A gente não sabe até onde vai o fundo do poço. Temos dois problemas!
Um de ordem internacional, que é uma conjuntura que envolve China, Estados
Unidos e o mercado internacional, onde o Brasil está inserido. E temos um
segundo problema complicado, que é a crise política interna, que tem trazido
toda essa confusão e inoperância. Para um momento destes, é preciso sobriedade
e bom senso, no sentido de as pessoas saberem caminhar no período das “vacas
magras”. Então, se as pessoas estão acostumadas com um estilo “X” de vida,
agora precisam viver de forma equilibrada. Além da crise real, há a crise
psicológica, em que as pessoas, por pavor, multiplicam a amplitude da crise
ainda que inconsciente. Tivemos momentos muito mais difíceis no passado, em que
as pessoas conseguiram prosperar. A gente tem de saber qual atitude tomar e não
pode se apavorar.
Como o senhor está vendo a
prática do Evangelho nas igrejas modernas. Elas estão sendo éticas?
Temos
que ser realistas. A maneira como a gente critica a ética de nossa igreja não
está correta. Grande parte dos crentes que frequentam os templos atualmente se
tornou cristã há menos de 10 anos. É muita gente nova! E a nossa sociedade,
historicamente, tem lacunas éticas, sendo que isso é um problema mundial, e
aqui no Brasil não é diferente. Então, não se espera dessa igreja recente
progressos éticos extraordinários. Lembrando que pessoas que se tornaram
evangélicas recentemente tiveram mudanças em suas vidas para melhor. Há também
uma espiritualidade problemática. Quando a espiritualidade é muito alienadora,
quando é uma espiritualidade muito desfocada, efervescente e com pouco
conteúdo, a ética vai sofrer.
Como o senhor avalia o caso da
escrivã americana que se recusou a fazer a certidão de casamento para um casal
homoafetivo?
Precisamos
separar duas coisas. Uma é a condição homossexual. Se a pessoa tem essa
tendência, numa sociedade democrática, tem o direito de dar a sua opinião.
Outra coisa é a proposta política do movimento LGBT. Há intenções que vão muito
além de se ter simpatia com o público homossexual. A última Parada Gay de São
Paulo mostrou atitudes de deboche desnecessário. Então, a pergunta é “para qual
lado a lei funciona?”. Assim como os grupos que defendem os homossexuais podem
ter direitos de fazer o que querem, os outros grupos também devem ter seus
direitos garantidos. Por exemplo, existe uma jornada normal de trabalho, mas se
o sujeito é adventista, ele consegue ser respeitado e não trabalhar mais a
partir do pôr do sol da sexta-feira. Se a pessoa quer fazer o casamento
homossexual, que faça. Se a pessoa não quiser fazer, precisa ser respeitada e
ter o direito de não fazer. Ou a gente convive democraticamente com opiniões
diferentes ou a gente vai passar por essas situações como a da escrivã
injustiçada. Daqui a pouco, quando um juiz decidir que não vai dar a guarda de
uma criança para um casal homossexual, ele também poderá ser prejudicado. Ele
tem ou não o direito de decidir o que fazer?
E sobre a situação dos
refugiados. Aqui no Espírito Santo há um projeto que acolhe refugiados,
especialmente os sírios, e os encaminha. O que acha dessa situação?
É
uma questão muito ampla. A Síria está um caos, e as potências mundiais não
querem resolver essa situação, pois se quisessem teriam resolvido. Então, a
gente vai ter uma ebulição na Síria e no Oriente Médio que continuará
multiplicando refugiados. É algo muito estranho o que está acontecendo, pois há
uma série de países árabes ricos e com muita condição de fazer alguma coisa
para os refugiados, como Emirados Árabes, Kuwait, Arábia Saudita. Porém, esses
países não estão recebendo ninguém. A Jordânia, por exemplo, abriga mais de 2
milhões de refugiados, mas o primo rico ao lado, a Arábia Saudita, não recebe
ninguém. Eles são árabes, têm a mesma cultura e recursos. Penso que a
comunidade internacional deveria ter um posicionamento e fazer com que esses
países ricos também “paguem a conta” dessa tragédia humanitária. Em relação à
vinda para o Ocidente, penso que a situação de necessidade deles é das piores,
mas aqui também não está nada bom. Só há um detalhe! Nesse contexto, virão
muitos que têm outros objetivos além de se abrigar. É importante lembrar que
esses refugiados precisam se adaptar à realidade do local onde eles foram
abrigados, pois há alguns lugares na Europa onde as comunidades estrangeiras
vindas do Oriente Médio querem implantar a lei deles lá. É preciso deixar claro
para eles que precisam viver dentro da realidade do novo país onde viverão.
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