“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século.” (Mt 28.19-20)
O texto de Mt 28.19-20 é conhecido como a Grande Comissão. O mesmo não é “uma mera missão” que abaliza a ideia de que a preocupação principal da Igreja deve ser o convertimento de pessoas e o estabelecimento de igrejas. Biblicamente falando, é mais do que isso. É um chamado que o Senhor ressurreto faz à Igreja para que ela se dedique e se sagre a formar discípulos que reconheçam seu Senhorio universal , se integrem ao povo de Deus e efetuem a incumbência de Jesus, que inclui todos os aspectos da vida humana. Isto pode ser chamado de missão integral .
A palavra “ide” no grego não é um verbo no imperativo, mas um particípio significando “indo”, ou “enquanto estejam indo”. O termo usado “hebraisticamente” tem o sentido de “forma de viver”. Ou seja, a missão tem de ser vista como a razão da Igreja, a filosofia de vida do povo de Deus. Trata-se de uma forma de falar coerente com a forma de viver. Significa que quem vai fazer discípulos vai como discípulo; quem batiza vai como batizado; e quem educa vai como quem foi educado de acordo com as coisas que Jesus ensinou. As palavras “batizando” e “ensinando” também são particípios. O único verbo no imperativo é “fazei discípulos”, que no grego é uma palavra só “discipulem”. A expressão “todas as nações”, no grego é “pants tá ethne”, que não significa necessariamente países, mas sim, grupos de povos, “povos étnicos”, raças.
O tema “missão” tem sido discutido em congressos, conferências, seminários, palestras, simpósios, encontros e exposições. Todavia, é um assunto profundamente inquietante no que tange à “atitude”, prática, da missão dentro e a partir da Igreja. O que nos incomoda e preocupa é a verossimilhança deste assunto estar se contornando em grande parte, no que o missionário Ronaldo Almeida Lidório chama de um mero “modismo” em nosso meio. Para ele, “’modismo’ é algo que causa grande agitamento em determinadas épocas, porém, não possui raízes e nem deixa marcas. E pior: é improdutivo”. É um assunto debatido e teorizado, até mesmo iniciado, porém não prosseguido nem persistido como deveria ser. Paremos de ser estudiosos e debatedores de missão e sejamos missionários! Hoje, somente de aborígines não alcançados pelo Evangelho, segundo Ronaldo Lidório , existe no mundo 300 milhões. Isto é bem maior que a população do nosso país. Isso sem falar das grandes massas urbanas, muitas vezes nominalmente cristianizadas, mas na verdade completamente pagãs.
Diante disto, devemos indagar: Onde estão os que têm se levantado para obedecer ao mandamento do Mestre, movidos e agitados por uma ardente e abrasadora paixão pelas vidas sedentas? Onde estão os que têm se levantado, dispostos a se desgastarem para levar o Evangelho até o último povo perdido sobre a Terra? Onde estão os cristãos de corações inflamados pelo poder de Deus que desejam se envolver com missão? Onde estão os cristãos decididos a morrer pela causa de Cristo? Onde estão os que existem para glorificar ao Senhor do Universo?
Como cristãos, precisamos entender alguns conceitos indispensáveis sobre missão baseando-se nas Sagradas Escrituras. Afinal, missão (glorificar e anunciar a glória de Deus), é o chamado da Igreja e deve ser perseguido vigorosamente, tanto dentro como fora da Igreja. Deste modo, o chamado da Igreja também é sustentar aqueles que são enviados para fazer essa obra, sustento esse se torna um sacrifício financeiro.
A atividade missionária é, primeiramente, um trabalho do Deus Trino: “Ide... batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19, grifo nosso). Missão é a atividade divina que emerge da própria natureza de Deus. O Deus da Bíblia é um Deus que “envia”; eis aí, portanto, o significado da palavra. Ele enviou os profetas a Israel, e enviou seu Filho ao mundo. Este, por sua vez, enviou os apóstolos, os setenta e a Igreja. Enviou também o Espírito Santo à Igreja, e hoje o envia aos... corações. Assim, a missão da Igreja resulta da própria missão de Deus, e nela tem de ser modelada. Entre as declarações mais importantes do Pacto de Lausanne , está aquela que afirma o propósito missionário do Deus Trino: “Afirmamos a nossa crença no único Deus eterno, Criador e Senhor do Mundo, Pai, Filho e Espírito Santo, que governa todas as coisas segundo o propósito da sua vontade. Ele tem chamado do mundo um povo para si, enviando-o novamente ao mundo como seus servos e testemunhas, para estender o seu reino, edificar o corpo de Cristo, e também para a glória do seu nome.
Confessamos, envergonhados, que muitas vezes negamos o nosso chamado e falhamos em nossa missão, em razão de nos termos conformado ao mundo ou nos termos isolado demasiadamente. Contudo, regozijamo-nos com o fato de que, mesmo transportado em vasos de barro, o evangelho continua sendo um tesouro precioso. À tarefa de tornar esse tesouro conhecido, no poder do Espírito Santo, desejamos dedicar-nos novamente”.
William J. Larkin Jr. nos lembra que: “A narrativa de Lucas apresenta cada pessoa da Divindade como ‘enviador’, comissionando e promovendo a missão. Cada pessoa da Trindade é também um ‘enviado’, um agente missionário bem como um participante trabalhando por meio dos agentes humanos”. Quem tem uma missão é o próprio Deus, a missão é dEle. O Pai, o Filho e o Espírito Santo é quem tem uma missão em direção e em benefício da humanidade caída. Ou seja, há uma descentralização do homem, da Igreja e das agências missionárias como os protagonistas da missão. Esses meios que Deus usa são os coadjuvantes de sua missão. É Deus quem tem uma missão no mundo. A Igreja tem o privilégio de ser participante da missão de Deus. De tal modo, o Deus Trino é o Autor, a Fonte de poder e o Articulador de toda atividade missionária. Ou seja, a missão cristã está relacionada ao Deus Trino onde o seu ponto central se converte em Jesus Cristo cuja chave é o seu entendimento. O Deus Trino é o ponto de partida, seja para a elaboração de uma teologia bíblica de missão, seja para o estudo da História das Missões. Sendo que só se pode entender a História das Missões à luz dos atos de Deus na história, desde a criação do Universo. A missão está voltada para cima “a glória de Deus”, para dentro “a edificação da Igreja” e para fora “a evangelização dos pecadores”.
Nos laços do Calvário que nos une,
Rev. Luciano Paes Landim
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