sábado, 2 de agosto de 2014

O Livro Missionário


O conteúdo geral da Bíblia é missionário. Missão nunca foi invenção ou produto humano, pois este princípio partiu de Deus e está no centro da Bíblia. Se Deus é um Deus Missionário e se a Bíblia é inspirada por Deus, logo, significa que a Bíblia é um Livro Missionário. Não existe missão sem as Escrituras Sagradas, nem podemos entender a Bíblia à parte da Missão de Deus. Vemos que na própria natureza de Deus existe o imperativo de missão, logo, o caráter do seu Livro também é missionário. Há na Bíblia um apelo missionário.
John Stott asseverou:

“Por meio da Bíblia o próprio Deus está evangelizando, isto é, comunicando as boas novas ao mundo. Você deve estar lembrado da declaração de Paulo acerca de Gênesis 12.3, segundo a qual ‘a Escritura [...] preanunciou o evangelho a Abraão’ (Gl 3.8)”.

A responsabilidade missionária da Igreja não começa na Grande Comissão no Novo Testamento (Mt 28.18-20), nem em At 1.8. É a partir da vocação de Abraão, a Grande Comissão no Antigo Testamento (Gn 12.1-3) que, segundo a promessa de Deus, tanto seria abençoado como seria bênção a outras nações. Israel como nação, Igreja veterotestamentária, deveria compartilhar suas bênçãos com outras nações. Em vez disso, procurou receber a bênção sem realmente haver tentado ser uma bênção a outros povos. Mas houve um propósito divino e missionário na desobediência de Israel.
Continua Stott:

“Toda a Escritura prega o evangelho. Deus evangeliza por meio dela”.

A Bíblia não contém missão. Ela própria é o meio e o alvo da missão.
Afirma ainda Stott:

“Sem a Bíblia, a evangelização mundial é impossível. Sem a Bíblia não temos nenhum evangelho para anunciar às nações, nenhuma garantia para ir até elas, nenhuma ideia de como ir e realizar a tarefa, e nenhuma esperança de sucesso. O grau de compromisso da igreja com a evangelização mundial é medido com o grau de sua convicção da autoridade da Bíblia. Quando os crentes perdem sua confiança na Bíblia, eles também perdem o zelo pelo evangelismo. Por outro lado, quando confiam na Bíblia, ficam determinados a evangelizar”.

A Bíblia é a nossa autoridade em missão. Ela nos revela a mensagem do Evangelho, os motivos corretos para missão e os objetivos e métodos que agradam a Deus. Todo trabalho missionário deve ser fundamentado e dirigido pelas Escrituras Sagradas. A Bíblia inteira enfoca o propósito de Deus de se revelar a todos os povos na face da Terra através do seu povo.
Stott apresenta quatro razões por que a Bíblia é fundamental na evangelização:
                                                               
“Primeiramente, a Bíblia nos dá o mandato de evangelização. Em segundo lugar, a Bíblia nos dá a mensagem. Em terceiro lugar, a Bíblia nos dá o modelo para a evangelização. Em quarto lugar, nos dá o poder para evangelizar”.

Edison Queiroz nos fala sobre a base bíblica da missão:

“A Bíblia, desde Gênesis até o Apocalipse, é um livro missionário, a partir do ponto de vista bíblico, o propósito de Deus é simplesmente reconciliar o homem consigo mesmo. O problema é que muitas vezes estudamos a Bíblia, não para buscar o propósito de Deus e sim para buscar respostas ou bases para nossas ideias. Precisamos avaliar nossa hermenêutica a partir do ponto de vista dos propósitos de Deus”.

Greenway cita o missiólogo europeu, Johannes Verkuyl, referindo-se ao Novo Testamento:

“Do começo ao fim, o Novo Testamento é um livro missionário. Ele deve sua própria existência ao trabalho missionário das igrejas cristãs primitivas, tanto a judia como a helenística. Os Evangelhos são ‘recordações vivas’ da pregação missionária, e as Epístolas, mais do que uma forma de apologética missionária, são instrumentos atuais e autênticos do trabalho missionário”.

Segundo Roger Greenway, os quatro Evangelhos podem ser vistos como “literatura missionária”:

1. O Evangelho segundo Mateus foi escrito para os judeus, para ensiná-los sobre Jesus e fazer deles a base para a missão da Igreja junto aos gentios;
2. O Evangelho segundo Marcos foi um “tratado” missionário para os gentios que precisavam de um breve relato sobre a vida e os ensinamentos de Jesus;
3. O Evangelho segundo Lucas, um gentio convertido à fé em Jesus, escreveu para os gentios como ele, os quais careciam saber que Jesus os queria em seu Reino tanto quanto os judeus;
4. O Evangelho segundo João foi escrito com o seguinte propósito missionário: “Para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.31).

Assim sendo, é impossível entender devidamente missão no Novo Testamento sem considerar suas raízes no Antigo Testamento.
Russell Shedd comenta:

“A ordem de fazer missões é muito clara no Novo Testamento, porém Jesus buscou no Antigo Testamento a base para essa declaração. Se lermos a Bíblia toda sem observar sua ênfase sobre missões, provavelmente a estamos lendo superficialmente, como eu lia o Antigo Testamento, sem notar a centralidade do plano de Deus para as nações. Agora penso de modo diferente. Foi uma mudança de paradigma para mim!”

O Antigo Testamento confirma o propósito claro de Deus de alcançar todos os povos. A promessa do Salvador em Gn 3.15 foi dada aos pais de toda a raça humana. A aliança com Noé inclui seus três filhos, não exclusivamente Sem. Abraão foi escolhido para ser o pai duma nação com propósito universal. É esclarecido mais ainda na aliança com Moisés que Israel era um povo escolhido de Deus para servir entre as nações (Is 40-44), e para ser sacerdote de Deus no mundo (Ex 10.4-6). Finalmente, os resultados da aliança com Davi e Salomão mostram sua amplidão mundial. A ideia principal nos salmos é que Deus merece o louvor de toda a criação, e na dedicação do Templo, Deus declarou o Seu desejo de que todos O conhecessem (1Rs 8.43,60).
Os profetas igualmente difundem o grande desejo de Deus de alcançar o mundo todo. Sofonias 1.2,3 fala que todas as nações vão ser julgadas, por isso precisam do Salvador. Habacuque 2.14 esclarece nitidamente o propósito missionário de Deus: "Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar".
Jonas, Amós, Isaías e Miqueias são modelos de como Deus ansiava mostrar-Se para as nações que Lhe pertencem. Ele elegeu Israel para ser o caminho do Seu conhecimento. O Antigo Testamento está repleto do conceito missionário de Deus em querer anunciar Seu amor e Sua mensagem de Salvação a todos os povos.
Portanto, missão está no centro da Bíblia e está também no centro da vida do verdadeiro cristão. Não há lugar mais seguro do que o lugar em que Deus nos colocou. A Bíblia inteira enfoca o propósito de Deus de Se revelar a todos os povos na face da Terra através do Seu povo. A Bíblia não contém missão. Missão é central na Bíblia.
Deus é o Senhor da missão. Deus é um Deus de coração missionário. É Ele quem envia:

1. Abraão (Gn 12.1-9);
2. Jonas (Jn 3.1-10);
3. Jesus (Lc 19.10);
4. O Consolador (Jo 16.7-15);
5. Os doze (Mt 10);
6. Os setenta (Lc 10.1-12);
7. Paulo (At 13.1 ao 14.28; 15.36 ao 18.22 e 18.23 ao 20.28);
8. O cumprimento da missão (Ap 5.9-14); e etc.

Nos laços do Calvário que nos une,
Luciano Paes Landim

BIBLIOGRAFIA:

A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. 2 ed. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

Carriker, C. Timóteo. (1992). Missões na Bíblia, princípios gerais. São Paulo, SP: Vida Nova.

_________________. (2005). A Visão Missionária na Bíblia, uma história de amor. Viçosa, MG: Editora Ultimato.

_________________. (2005). O Caminho Missionário de Deus, uma teologia bíblica de missões. Brasília, DF: Editora Palavra.

Edison, Queiroz. (2009). A Igreja Local e Missões. São Paulo, SP: Vida Nova.

Greenway, Roger. (2001). Ide e Fazei Discípulos. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã.

Peters, George W. (2000). Teologia Bíblica de Missões. Rio de Janeiro, RJ: CPAD.

Winter, Ralph D. & Hawthorne, Steven C & Bradford, Kevin D. (Editores). (2009). Perspectivas no Movimento Cristão Mundial. São Paulo, SP: Vida Nova.

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