O conteúdo
geral da Bíblia é missionário. Missão nunca foi invenção ou produto humano,
pois este princípio partiu de Deus e está no centro da Bíblia. Se Deus é um
Deus Missionário e se a Bíblia é inspirada por Deus, logo, significa que a
Bíblia é um Livro Missionário. Não existe missão sem as Escrituras Sagradas,
nem podemos entender a Bíblia à parte da Missão de Deus. Vemos que na própria
natureza de Deus existe o imperativo de missão, logo, o caráter do seu Livro
também é missionário. Há na Bíblia um apelo missionário.
John Stott
asseverou:
“Por meio da Bíblia o próprio Deus está
evangelizando, isto é, comunicando as boas novas ao mundo. Você deve estar
lembrado da declaração de Paulo acerca de Gênesis 12.3, segundo a qual ‘a
Escritura [...] preanunciou o evangelho a Abraão’ (Gl 3.8)”.
A
responsabilidade missionária da Igreja não começa na Grande Comissão no Novo
Testamento (Mt 28.18-20), nem em At 1.8. É a partir da vocação de Abraão, a
Grande Comissão no Antigo Testamento (Gn 12.1-3) que, segundo a promessa de
Deus, tanto seria abençoado como seria bênção a outras nações. Israel como
nação, Igreja veterotestamentária, deveria compartilhar suas bênçãos com outras
nações. Em vez disso, procurou receber a bênção sem realmente haver tentado ser
uma bênção a outros povos. Mas houve um propósito divino e missionário na
desobediência de Israel.
Continua
Stott:
“Toda a Escritura prega o evangelho. Deus
evangeliza por meio dela”.
A Bíblia não
contém missão. Ela própria é o meio e o alvo da missão.
Afirma ainda
Stott:
“Sem a Bíblia, a evangelização mundial é
impossível. Sem a Bíblia não temos nenhum evangelho para anunciar às nações,
nenhuma garantia para ir até elas, nenhuma ideia de como ir e realizar a
tarefa, e nenhuma esperança de sucesso. O grau de compromisso da igreja com a
evangelização mundial é medido com o grau de sua convicção da autoridade da
Bíblia. Quando os crentes perdem sua confiança na Bíblia, eles também perdem o
zelo pelo evangelismo. Por outro lado, quando confiam na Bíblia, ficam
determinados a evangelizar”.
A Bíblia é a
nossa autoridade em missão. Ela nos revela a mensagem do Evangelho, os motivos
corretos para missão e os objetivos e métodos que agradam a Deus. Todo trabalho
missionário deve ser fundamentado e dirigido pelas Escrituras Sagradas. A
Bíblia inteira enfoca o propósito de Deus de se revelar a todos os povos na
face da Terra através do seu povo.
Stott
apresenta quatro razões por que a Bíblia é fundamental na evangelização:
“Primeiramente, a Bíblia nos dá o mandato de
evangelização. Em segundo lugar, a Bíblia nos dá a mensagem. Em terceiro lugar,
a Bíblia nos dá o modelo para a evangelização. Em quarto lugar, nos dá o poder
para evangelizar”.
Edison
Queiroz nos fala sobre a base bíblica da missão:
“A Bíblia, desde Gênesis até o Apocalipse, é um
livro missionário, a partir do ponto de vista bíblico, o propósito de Deus é
simplesmente reconciliar o homem consigo mesmo. O problema é que muitas vezes
estudamos a Bíblia, não para buscar o propósito de Deus e sim para buscar
respostas ou bases para nossas ideias. Precisamos avaliar nossa hermenêutica a
partir do ponto de vista dos propósitos de Deus”.
Greenway
cita o missiólogo europeu, Johannes Verkuyl, referindo-se ao Novo Testamento:
“Do começo ao fim, o Novo Testamento é um livro
missionário. Ele deve sua própria existência ao trabalho missionário das
igrejas cristãs primitivas, tanto a judia como a helenística. Os Evangelhos são
‘recordações vivas’ da pregação missionária, e as Epístolas, mais do que uma
forma de apologética missionária, são instrumentos atuais e autênticos do
trabalho missionário”.
Segundo
Roger Greenway, os quatro Evangelhos podem ser vistos como “literatura
missionária”:
1. O Evangelho segundo Mateus foi escrito para os
judeus, para ensiná-los sobre Jesus e fazer deles a base para a missão da
Igreja junto aos gentios;
2. O Evangelho segundo Marcos foi um “tratado”
missionário para os gentios que precisavam de um breve relato sobre a vida e os
ensinamentos de Jesus;
3. O Evangelho segundo Lucas, um gentio convertido
à fé em Jesus, escreveu para os gentios como ele, os quais careciam saber que
Jesus os queria em seu Reino tanto quanto os judeus;
4. O Evangelho segundo João foi escrito com o
seguinte propósito missionário: “Para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho
de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.31).
Assim sendo,
é impossível entender devidamente missão no Novo Testamento sem considerar suas
raízes no Antigo Testamento.
Russell
Shedd comenta:
“A ordem de fazer missões é muito clara no Novo
Testamento, porém Jesus buscou no Antigo Testamento a base para essa
declaração. Se lermos a Bíblia toda sem observar sua ênfase sobre missões,
provavelmente a estamos lendo superficialmente, como eu lia o Antigo
Testamento, sem notar a centralidade do plano de Deus para as nações. Agora
penso de modo diferente. Foi uma mudança de paradigma para mim!”
O Antigo
Testamento confirma o propósito claro de Deus de alcançar todos os povos. A
promessa do Salvador em Gn 3.15 foi dada aos pais de toda a raça humana. A
aliança com Noé inclui seus três filhos, não exclusivamente Sem. Abraão foi
escolhido para ser o pai duma nação com propósito universal. É esclarecido mais
ainda na aliança com Moisés que Israel era um povo escolhido de Deus para
servir entre as nações (Is 40-44), e para ser sacerdote de Deus no mundo (Ex
10.4-6). Finalmente, os resultados da aliança com Davi e Salomão mostram sua
amplidão mundial. A ideia principal nos salmos é que Deus merece o louvor de
toda a criação, e na dedicação do Templo, Deus declarou o Seu desejo de que
todos O conhecessem (1Rs 8.43,60).
Os profetas
igualmente difundem o grande desejo de Deus de alcançar o mundo todo. Sofonias
1.2,3 fala que todas as nações vão ser julgadas, por isso precisam do Salvador.
Habacuque 2.14 esclarece nitidamente o propósito missionário de Deus:
"Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as
águas cobrem o mar".
Jonas, Amós,
Isaías e Miqueias são modelos de como Deus ansiava mostrar-Se para as nações
que Lhe pertencem. Ele elegeu Israel para ser o caminho do Seu conhecimento. O
Antigo Testamento está repleto do conceito missionário de Deus em querer
anunciar Seu amor e Sua mensagem de Salvação a todos os povos.
Portanto,
missão está no centro da Bíblia e está também no centro da vida do verdadeiro
cristão. Não há lugar mais seguro do que o lugar em que Deus nos colocou. A
Bíblia inteira enfoca o propósito de Deus de Se revelar a todos os povos na face
da Terra através do Seu povo. A Bíblia não contém missão. Missão é central na
Bíblia.
Deus é o
Senhor da missão. Deus é um Deus de coração missionário. É Ele quem envia:
1. Abraão
(Gn 12.1-9);
2. Jonas (Jn
3.1-10);
3. Jesus (Lc
19.10);
4. O
Consolador (Jo 16.7-15);
5. Os doze
(Mt 10);
6. Os
setenta (Lc 10.1-12);
7. Paulo (At
13.1 ao 14.28; 15.36 ao 18.22 e 18.23 ao 20.28);
8. O
cumprimento da missão (Ap 5.9-14); e etc.
Nos laços do Calvário que nos une,
Luciano Paes Landim
BIBLIOGRAFIA:
A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João
Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. 2 ed. Barueri, SP:
Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
Carriker, C. Timóteo. (1992). Missões na Bíblia,
princípios gerais. São Paulo, SP: Vida Nova.
_________________. (2005). A Visão Missionária na
Bíblia, uma história de amor. Viçosa, MG: Editora Ultimato.
_________________. (2005). O Caminho Missionário de
Deus, uma teologia bíblica de missões. Brasília, DF: Editora Palavra.
Edison, Queiroz. (2009). A Igreja Local e Missões.
São Paulo, SP: Vida Nova.
Greenway, Roger. (2001). Ide e Fazei Discípulos.
São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã.
Peters, George W. (2000). Teologia Bíblica de
Missões. Rio de Janeiro, RJ: CPAD.
Winter, Ralph D. & Hawthorne, Steven C & Bradford, Kevin D.
(Editores). (2009). Perspectivas no Movimento Cristão Mundial.
São Paulo, SP: Vida Nova.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários: